A associação entre sono e dor tem sido um tema muito prevalente na literatura. A relevância desta interação fica evidente quando deparamos com índices que revelam que dor crônica afeta aproximadamente um quinto da população adulta e que, aproximadamente dois terços dos pacientes com dor crônica relatam sono ruim e fadiga como queixa secundária.
As queixas subjetivas do sono mais frequentes em pacientes com dor crônica são insônia (dificuldade de iniciar o sono ou permanecer adormecido ou acordar muito cedo), sono não reparador e sonolência diurna excessiva ou fadiga. Já as anormalidades do sono mais comuns nos pacientes com dor crônica avaliadas por exames objetivos e quantitativos (Polissonografia/Actigrafia) incluem fragmentação do sono, eficiência de sono diminuída e redução de ondas lentas do sono, sendo algumas destas anormalidades específicas para certas condições de dor. Um relativo número de pacientes com dor crônica apresenta distúrbios do sono como Insônia, Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS), Síndrome das Pernas Inquietas ou Movimento Periódicos de Pernas.
Especificamente nos pacientes com Dor Orofacial a prevalência dos Distúrbios do Sono também é alta. A insônia e a Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS) são os distúrbios do sono mais comumente diagnosticados nestes pacientes em estudos científicos.
Sem dúvida, estes resultados têm potenciais implicações clínicas para avaliação e gestão da dor em pacientes que apresentam as comorbidades Dor Orofacial e Distúrbios do Sono. O tratamento da Dor Orofacial deverá abranger padrões de sono. A inclusão de intervenções orientadas especialmente para os sintomas de insônia (distúrbio mais prevalente na dor crônica) deverá constar entre as modalidades terapêuticas, além das abordagens tradicionais de gerenciamento de dor. Abordagens simples com foco na educação do paciente, na higiene do sono e medicamentos para melhorar o sono e reduzir a dor serão muito benéficos. Quando, durante a anamnese inicial, um paciente com Dor Orofacial apresentar características de Insônia Crônica ou SAOS, é preciso encaminhá-lo para o especialista em Medicina do Sono e caso haja indicação para o cirurgião dentista certificado em Odontologia do Sono. Melhorar a continuidade do sono pode melhorar a eficácia de tratamentos para DTM e outros distúrbios de dor e, eventualmente, ter benefícios preventivos.
Fonte: J Pain, v. 14, n. 12, p. 1539-1552, Dec. 2013. The Association of Sleep and Pain: An Update and a Path Forward . Finan, P. H.; Goodin, B. R.; Smith, M. T.
Orofacial Pain, Motor Function, and Sleep in: Sessle, B.J. Orofacial Pain: Recent advances in assessment, management and understanding of mechanisms. Murray, G. M.; Lavigne, G.J. Disponível em: http://ebooks.iasp-pain.org/orofacial_pain/
Cláudia Aparecida de Oliveira Machado
Especialista em Disfunção Têmporomadibular e Dor Orofacial / Odontologia do Sono / Odontopediatria / Ortopedia Funcional dos Maxilares
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