A compreensão da associação dor-sono é de grande interesse clínico, a fim de orientar possíveis vias terapêuticas, entender melhor o paciente e instituir estratégias comuns entre os profissionais de saúde. Os distúrbios do sono e a dor crônica são considerados problemas de saúde pública e podem estar associados. Embora esta associação pareça óbvia, sua direcionalidade é debatida há vários anos. Anteriormente, se pensava que esta relação seria bidirecional, onde se postulava que as deficiências do sono exacerbariam a dor e que a dor iria contribuir para a instabilidade ou distúrbios do sono. Entretanto estudos atuais apontam para um efeito unidirecional mais forte e mais consistente do sono causando exacerbação da dor crônica em populações adultas. Mas a complexidade desta relação varia de acordo com as características da amostra (aguda/ crônica; adultos/ adolescentes), a presença ou tipos de dor (DTM, artrites, cefaleias e outras), e o método de avaliação (subjetivo/objetivo).
A relevância desta interação fica evidente quando deparamos com índices recentemente revelados em uma metanálise : 44% dos pacientes adultos com dor crônica apresentam distúrbios do sono associados; os diagnósticos mais comuns são : insônia (72%), síndrome das pernas inquietas (32%) e apneia obstrutiva do sono (32%). As queixas subjetivas do sono mais frequentes em pacientes com dor crônica são insônia (dificuldade de iniciar o sono ou permanecer adormecido ou acordar muito cedo), sono não reparador e sonolência excessiva diurna ou fadiga. Já as anormalidades do sono mais comuns avaliadas por exames objetivos e quantitativos (Polissonografia/Actigrafia) incluem fragmentação do sono, eficiência de sono diminuída e redução de ondas lentas do sono, sendo algumas destas anormalidades específicas para certas condições de dor. Especificamente nos pacientes com Dor Orofacial, a prevalência dos Distúrbios do Sono também é alta. A Insônia, a Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS) e o Bruxismo do Sono são os distúrbios do sono mais comumente diagnosticados nestes pacientes.
Embora o vínculo entre sono e dor seja amplamente estabelecido, os mecanismos subjacentes a esse relacionamento ainda não foram completamente elucidados. Diferentes pesquisas apontam para os possíveis papeis da modulação endógena da dor, dos marcadores inflamatórios, do afeto, humor e outros estados, como sofrimento emocional ou catastrofização como possíveis mediadores.
Sem dúvida, estes resultados têm potenciais implicações clínicas para avaliação e gestão da dor em pacientes que apresentam as comorbidades Dor Orofacial e Distúrbios do Sono. O tratamento da Dor Orofacial deverá abranger padrões de sono. A inclusão de intervenções orientadas especialmente para os sintomas de insônia (distúrbio mais prevalente na dor crônica) deverá constar entre as modalidades terapêuticas, além das abordagens tradicionais de gerenciamento de dor. Abordagens simples com foco na educação do paciente, na higiene do sono e quando indicado, medicamentos para melhorar o sono e reduzir a dor serão muito benéficos. Quando houver suspeita de comorbidades relacionadas aos Distúrbios Respiratórios do Sono ( Insônia / Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono), se faz necessário encaminhar o paciente para uma avaliação especializada. Melhorar a continuidade do sono pode melhorar a eficácia de tratamentos para DTM e outros distúrbios de dor e, eventualmente, ter benefícios preventivos.
Fonte: – Babilon AH et al. Sleep and pain: recent insights, mechanisms, and future directions in the investigation of this relationship Journal of Neural Transmission. Aug 2019.
-Mathias JL et al. Sleep disturbances and sleep disorders in adults living with chronic pain: A meta- analysis. Sleep Med 2018. 52:198–210
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