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     Geralmente quando uma pessoa sente dor sempre busca uma causa, que pode ser um trauma ou uma lesão. Entretanto quando se trata de dor crônica nem sempre existe um motivo aparente que explique a causa da dor o que dificulta o diagnóstico. Geralmente, o relato do paciente é incompatível com achados em exames clínicos e de imagem. Isto acontece porque a dor se mantém por muito tempo devido às várias possíveis alterações no sistema nervoso central. Além disso, a dor é frequentemente acompanhada por vários outros problemas de ordem psicossocial (como depressão, ansiedade), distúrbios cognitivos (como de concentração e de memória), maior sensibilidade à dor, presença de outras condições de dor associadas (comorbidades), distúrbios do sono, entre outros.

    A dor crônica é muito comum entre indivíduos com Disfunção Temporomandibular (DTM) que são problemas que atingem as Articulações Temporomandibulares e/ou os músculos da mastigação. Muitas das características da dor crônica são atribuídas na verdade à sensibilização central, e podem ser identificadas por meio de exames clínicos e principalmente por uma anamnese ampla e bem direcionada. O diagnóstico é desafiador, há muita sobreposição de sintomas, o paciente está em sofrimento, muitas vezes com sérias limitações.

    Todos os profissionais de saúde que cuidam de pacientes apresentando condições dolorosas deveriam estar informados e capacitados para identificar a presença de sensibilização central em seus pacientes, já que esta aumenta muito a complexidade dos casos. A sensibilização central é associada a uma maior sensibilidade à dor e também a outros estímulos como luz (fotofobia), som (fonofobia), intolerâncias alimentares e alergias.
 Na presença de sensibilização central, a dor também tende a ter uma distribuição difusa, atingindo áreas maiores que a relacionada com a fonte da dor. Um exemplo disso são os pacientes diagnosticados com DTM relatando que a dor atinge a região cervical, ombros, podendo incluir coluna e membros. Ou seja, há uma distribuição da dor incompatível com as estruturas anatômicas primariamente envolvidas.

     Sendo assim, é fundamental que nossas abordagens terapêuticas levem em consideração os mecanismos neurais relacionados às dores crônicas. Por exemplo, na presença de sensibilização central e/ou dor crônica em um paciente, é altamente improvável que tenhamos sucesso no tratamento se oferecermos abordagens de ação apenas ou principalmente periféricas como no caso de DTM utilizando apenas uma placa intra oral. A mente é um sistema bastante complexo, regido por regras próprias, difíceis de serem aplicadas de forma rígida para todas as pessoas. A dor é parte e resultado dessa complexidade. Em muitos casos o que podemos fazer de melhor é um tratamento direcionado para cada indivíduo, considerando todos os aspectos que regulam sua dor.

Fonte: Jornal da SBDOF/ vol 5/ entrev. Dra. Daniela Godoy Gonçalves.

Dra Cláudia Aparecida de Oliveira Machado

Especialista em Dor Orofacial e Disfunção Têmporomandibular / Odontopediatria/ Ortopedia Funcional dos Maxilares e Odontologia do Sono

 

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